5 experiências para conhecer melhor a ‘capital nacional do búfalo’
- Anderson Vasconcelos
- 27 de fev.
- 6 min de leitura
Atualizado: 1 de mar.
Soure, na Ilha de Marajó, a duas horas de Belém, é cheia de atrativos culturais imperdíveis

Conhecer a Ilha de Marajó era um desejo antigo. Chegamos ao Porto de Belém antes mesmo do sol nascer e a fila para pegar a lancha rápida, que sai às seis e meia da manhã rumo a Soure, já estava grande. Embarcados na ‘Expresso Golfinho’, seguimos numa viagem de aproximadamente duas horas até o município conhecido como a “capital nacional do búfalo”, a 80km da capital paraense.
A primeira hora de viagem, navegando pela Baía do Guajará até a altura da Ilha de Mosqueiro, foi bastante tranquila, mas à medida que a embarcação avança pela Baía de Marajó para chegar à margem oposta, onde estão os municípios mais conhecidos do destino, a lancha sacoleja um bocado, por conta da força das águas - onde o rio encontra o mar - e pode provocar certo enjoo em quem não está acostumado. A embarcação só não balança mais que o carimbó, ritmo forte na ilha.
No trecho final da viagem está a foz do Rio Paracauari, curso d’água que separa Soure de Salvaterra, dois dos municípios mais visitados na Ilha de Marajó, a partir de Belém. No desembarque no Porto de Soure, uma estátua de um búfalo já deixa claro quem é a “estrela” da região. Na saída da estação, caminhamos até um letreiro com o nome da cidade e de cara já encontramos o bubalino mais famoso do lugar, o “alemão”, pastando ali mesmo na orla. Ele é tão famoso que tem até perfil no instagram. Pra poucos!
Antes mesmo de deixar o Porto, recomendamos que já reserve o bilhete de volta, pois as passagens costumam acabar muito rápido e deixar para comprar no dia pretendido da volta à Belém não é boa ideia. Compramos o retorno também com a ‘Expresso Golfinho’ que deixa a ilha às 05h30 da manhã, diariamente, e foi a melhor escolha: a embarcação é maior, tem melhor infraestrutura e o enjoo do trecho de vinda passa longe, muito longe.
Como partimos de Belém muito cedo, ao desembarcar em Soure corremos pro Mercado Municipal para tomar aquele café reforçado antes de seguir para os passeios programados com o guia David, da Marajó Tours. Nem preciso dizer que o queijo de búfala é o produto mais apreciado no destino, certo? Abusamos nas tapiocas e sanduíches recheados com essa iguaria, que tem sabor mais suave e textura mais macia que o queijo tradicional. Uma delícia!
Roteiro
Nossa primeira parada foi no curtume Art Couro Marajó, a pouco mais de 1km do Mercado Municipal. No local, é possível conhecer não somente sobre as raças de búfalos e como eles chegaram à ilha, mas a respeito de todo o processo de curtimento até a finalização dos produtos, expostos em uma lojinha no espaço. No curtume, o visitante tem a oportunidade de conferir também vestígios de alguns animais da região, como a mandíbula de um porco, a cabeça de uma onça e de um boto. Tem até a vértebra de uma baleia encalhada na ilha no ano de 1981.
O guia nos apresentou todo o processo de produção dos itens feitos à base de couro, a fase inicial, numa salgadeira, onde o couro passa por desidratação, até a exposição das produtos. Conhecemos o local onde o couro passa por pigmentação, com matéria-prima extraída de raízes aéreas do mangue, e secagem até ser entregue aos artesãos que criam as peças. Na lojinha, há vários produtos: cinto, capa de sela, palmilha de sandália, carteiras, chaveiros, bolsas e até biojoias feitas de osso de búfalo. Até o pix da loja é estampado em couro.
De lá, seguimos para a M’barayó, com intuito de apreciar a rica cerâmica indígena marajoara, um dos elementos culturais de povos tradicionais mais conhecidos no país. A cerâmica marajoara aparece em vários versos de toadas do boi-bumbá, outra manifestação cultural amazônica, eternizadas na voz de David Assayag. Estar naquele lugar me remeteu àquela conexão cultural.
Conhecemos um pouco dessa técnica milenar, que usa tinta extraída de argilito (um tipo de rocha sedimentar), ferrão de arraia para desenhar e dente de porco como verniz para dar mais nitidez às criações: máscaras, canecas, pratos, defumadores, instrumentos musicais, cada item com seu significado e sua função, passada de geração em geração. Optamos por comprar somente um instrumento musical pelo qual Zezé se afeiçoou e com o qual é possível fazer diferentes sons.
Rota do Queijo

Um dos pontos altos do passeio é, sem dúvidas, conferir a criação de búfalos em uma das fazendas da região e vivenciar um pouco da rotina e convivência com o animal que é a “atração” da ilha, afinal de contas o Marajó abriga o maior rebanho bubalino do país. Depois de almoçar em um restaurante na Praia do Pesqueiro, seguimos para a Experiência Mironga (R$ 150/pessoa), na fazenda de mesmo nome.
A experiência começa com uma ‘roda de conversa’ com Gabriela Gouvêa, uma das gestoras da fazenda, que explica sobre a importância do búfalo para a região e convida para um contato mais próximo com os animais. Apesar do tamanho, que assusta um pouco, em geral eles são bastante dóceis. Um carinho inicial para “quebrar o gelo” ajuda na aproximação com esses ruminantes que podem pesar até uma tonelada.
Uma dos vaqueiros mais experientes da Mironga, Marinaldo Trindade, ensina e ajuda o visitante a ordenhar a búfala, uma experiência enriquecedora inclusive para crianças, que aprendem a realizar o movimento correto com as mãos. Novidade também para mim. A vivência na Mironga inclui ainda montaria. Apesar do medo inicial, Zezé topou e curtiu a experiência. Deu uma volta pela fazenda, sob os olhos atentos dos papais. Maik preferiu só observar. Eu, como nosso pequeno, também participei da montaria, uma experiência bem interessante.
De lá, partimos para a etapa que eu mais aguardava: fomos à queijaria para conhecer os produtos feitos à base do leite da búfala. Neiva do céu! (risos). No menu degustação tinha bolinho de leite, pão de queijo, doces, manteigas e vários tipos de queijo, um melhor que o outro, tudo para rechear uma tapioca dos deuses, preparada pelo chef Jorge Chaves, que conhece como ninguém os sabores do Marajó.
‘Poço Encantado’
Outro programa que vale a pena é o passeio ‘Poço Encantado’ (R$ 150/pessoa; a partir de dois visitantes, fica R$ 90/pessoa), que sai da Vila de Pesqueiro, localizada a 10 km do centro de Soure, e navega por braços do rio Pesqueiro até o Igarapé do Poço Encantado, onde o visitante pode apreciar a fauna e a flora enquanto a embarcação serpenteia os manguezais. Durante o percurso, os guias da agência Renan Turismo - um casal que vive na região há muitos anos - contam um pouco da experiência da família na região e a relação com a natureza.
No caminho, vimos algumas espécies de caranguejos e vários tipos de aves como o pato-mergulhão, o biguá e a garça-mirim. Mas, enquanto navegávamos pelo Rio Pesqueiro eu fiquei encantando mesmo foi com a revoada de um bando de guarás, tingindo de vermelho aquele céu azulado. Que sorte! O passeio, que dura cerca de duas horas e meia, tem ainda uma parada para banho, quando você pode renovar as energias naquela água revigorante. Aproveitamos tanto quanto o café com canela servido na volta. Ambos uma delícia!
Carimbó
Na sua visita à ilha, não deixe de passar pela Casa da Cultura, especialmente na noite em que há apresentação de carimbó, promovida pelo grupo Cruzeirinho, há quase 40 anos, para resgatar, preservar e divulgar a cultura amazônica, em especial a do Marajó. Chegamos ao local super fácil pois estávamos hospedados a duas ruas do ponto turístico.
Era uma segunda-feira festiva e os visitantes estavam com ouvidos atentos ao som e os olhos acompanhando o colorido da roupa e os pés descalços dos integrantes do grupo enquanto faziam os movimentos giratórios que marcam essa expressão cultural. Depois do convite, também nós caímos na roda para viver aquela experiência. É fácil integrar-se e entregar-se ao som do Marajó: os participantes são bastante acolhedores; o ambiente, convidativo; e o ritmo, contagiante. Não tem como dar errado!
ANOTE AÍ!
Onde ficar:
- Pousada Marajó For You: R$ 185/diária (quarto duplo)
Passeios:
MarajoTours - (91) 98099-5090
Renan Turismo Marajó - (91) 98118-4728
* Imagens: Anderson Vasconcelos e Maik Rodrigues.
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